O nosso povo cumpre literalmente aquela máxima pronunciada por José Marti, líder da independência cubana: "Quando há muitos homes sem decoro, sempre há outros que tenhem em si o decoro de muitos homens. Esses som os que se rebelam com força terrível contra os que roubam aos povos a sua liberdade, que é roubar aos homens o seu decoro. Nesses homens vam milhares de homens, vai um povo inteiro, vai a dignidade humana". Essa é a dignidade combatente do povo galego, que hoje honramos condensada nas figuras de Alexandre Bóveda, Moncho Reboiras, Lola Castro e José Vilar.

Companheiras e companheiros, nom é exacto dizermos que Alexandre, Moncho, Lola e José foram "mártires". O seu objectivo nom era o martírio, nengum deles/as procurava a morte, se bem sabiam que esta é umha possibilidade sempre presente para as boas e generosas, num país sem soberania, governado por ladrons e por fascistas. É por isso que nengum duvidou um ápice em assumir a possibilidade de ter que pagar o bem mais prezado, a própria vida, por erguer a bandeira da resistência nacional. Com certeza, ninguém como eles deu tanto valor à dignidade, à liberdade, ao bem-estar e ao progresso da Galiza e do seu povo trabalhador; por isso é que merecem o nosso maior respeito e tenhem todo o nosso reconhecimento. Nom por serem capítulos memoráveis dumha história passada, mas por constituirem o expoente mais elevado dum compromisso presente, dumha luita actual. É importante que isto seja bem compreendido: reduzir Alexandre, Moncho, Lola e José a quatro nomes, a quatro retratos, a quatro cabodanos, é desprezar o mais importante e actual das suas vidas, o valor humano e o compromisso militante infinito de cada um deles. Nom caiamos nunca na tentaçom de converter estes quatro compatriotas no nosso particular santoral laico: fagamos deles, porém, o alimento mais valioso da nossa moral revolucionária e da nossa implicaçom política. Trabalhemos e combatamos conscientes de que à luz do seu exemplo nom há esforço demasiado grande, nom há compromisso demasiado elevado, nom há tarefa demasiado difícil, nom há entrega demasiado valiosa. Fagamos dos seus nomes o alicerce da humildade necessária com a que entregar-nos ao nosso povo, da raiva e o valor imprescindíveis para combatermos sem trégua e sem objecçons o seu inimigo histórico. Que Espanha tenha claro, hoje que celebra o seu Império, que os e as independentistas galegas nom estamos aqui para lamentar quatro perdas, senom para acrescentar quatro exemplos de combate ao arsenal moral e militante com o que tarde ou cedo será derrotada!
Porque, companheiras e companheiros, o povo de Alexandre, de Moncho, de Lola e de José, segue a sofrer. A sua identidade esmorece vítima da mais selvagem vaga uniformizadora que a história tenha conhecido nunca; os seus direitos políticos seguem a ser negados; a sua dignidade nacional segue a ser humilhada; as suas condiçons de vida e de trabalho som cada vez piores; a sua terra e a sua paisagem som pervertidas e espoliadas para benefício alheio; as suas mulheres discriminadas e sobre-exploradas; a sua mocidade segue a ser excluída e alienada... E mentres isto acontece, as galegas e os galegos seguimos pelejando, e o nosso povo segue a dar pequenos grandes exemplos de compromisso incalculável. Por isso é obrigado que hoje fagamos referência aos casos concretos de três companheiros independentistas:
O primeiro deles é o de Armando Ribadulha, detido em 1998 nesta mesma cidade por participar nas luitas contra a empacotadora de Vila-Boa, e condenado pola justiça espanhola a ano e meio de cadeia num processo no que --por certo-- o concelho de Ponte-Vedra se apresentou como parte acusadora. O seu é mais um caso de repressom, mas também um exemplo de dignidade e inteireza à hora de enfrentar umha pena real de privaçom de liberdade, e sobretodo de solidariedade e apoio social, materializado nos centos de pessoas que anonimamente contribuírom para juntar os mais de 6.000 euros em que o inimigo cotizou a liberdade da que hoje pode desfrutar, graças ao que deve ser considerado umha vitória sem paliativos do nosso movimento.
O segundo é o do companheiro da AMI Vítor Lourenço, detido e acusado de participar numha acçom de sabotagem contra interesses bancários durante a Cimeira Europeia de Ministros de Justiça e Interior celebrada este ano em Compostela; através dum processo irregular e carente de provas, o poder espanhol pretendeu escarmentar e intimidar umha juventude cada vez mais decidida a superar os seus próprios medos e enfrentar a opressom de forma directa. Nom o conseguiu: Vítor está hoje em liberdade sem cargos.
O terceiro é o do companheiro de AGIR Alexandre Fernandes, expulso por três anos da universidade como represália ao papel protagonista e dinamizador que a esquerda independentista está a desenvolver no seio do Movimento Estudantil Galego. A Universidade de Santiago de Compostela viu-se obrigada a recorrer a um processo sem as mínimas garantias, levado a cabo com nocturnidade e aleivosia durante os messes de verao, para castigar umha atitude exemplar de insubmissom e defesa dos interesses educativos do nosso povo. Esta, amigas e amigos, deve ser umha derrota do poder espanhol no seu intento estéril de escarmentar e reprimir as nossas ánsias de democracia e liberdade!
Companheiras e companheiros, a nossa presença hoje aqui nom é mais umha assistência ritual a um acto de simples homenagem à memória histórica e de combate da naçom galega. É, antes bem, um acto de reafirmaçom da nossa vontade, da nossa capacidade e do nosso compromisso de luita. Umha luita que por natureza há ter na repressom e na sanha espanhola umha das suas constantes, e que por isso deve de ter na nossa firmeza, na nossa coragem e na nossa entrega umha exigência. Aqui nom estamos para chorar quatro mortes, senom para recolher quatro fuzis e quatro exemplos. Hoje mais que nunca, é necessário rachar o véu da "normalidade democrática" com que o poder espanhol quer ocultar o carácter conflituoso e violento da opressom. A Galiza combatente está viva. Está-o nas luitas vicinais, nos conflitos operários, nas greves gerais, nos enfrentamentos populares à ordem vigente, na resistência estudantil, nas respostas à polícia e nas sabotagens anónimas aos interesses turísticos, comerciais e financeiros do inimigo que se venhem produzindo nos últimos meses. Está-o nas ruas, nas paróquias, nas aulas, nas fábricas e nos centros de trabalho da nossa naçom. Segue a está-lo nos coraçons e na vontade dos melhores filhos e filhas do povo trabalhador galego, na sua dignidade inquebrantável, no seu valor, no seu amor sem limite à Terra e à Liberdade. Está hoje aqui, nesta praça ponte-vedresa, vencendo o esquecimento e renovando o compromisso de tantos e tantas que nos precedérom, que luitárom e morrêrom para que a Galiza viva.
VIVA A GALIZA COMBATENTE!!
ALEXANDRE, MONCHO, LOLA, JOSÉ...................PRESENTES!!!
VIVA GALIZA CEIVE, SOCIALISTA E ANTIPATRIARCAL!
Ponte-Vedra, 12 de Outubro de 2002